Para cima de umas quantas da manhã. Raquel à janela, a apanhar o fresco da noite (não interessa...) De repente, um som. Um barulho ininterrupto, um roçar grave, um arranhar em crescendo. Com a clarividência inerente daquela hora, volto a cabeça para o cimo da rua, e a minha miopia (mal-)disfarçada pelas lentes prescruta um vulto no meio da estrada. Será um ninja? Será uma personificação da morte? E o som a continuar, a aumentar. Os olhos semi-cerrados, a expressão de ignorância gravada no rosto. Será um papa-reformas desvairado? Será um segurança de hipermercado montado numa segway com os pneus gastos? O som continua, o rasto que a figura deixa atrás de si passa da faixa da direita para a da esquerda para o meio, ziguezagueando na minha própria aturdição!
Ele aproximava-se a uma velocidade estrondosa.
Arrepanhou-se-me o peito na sensação de que nunca mais ia consegui ser feliz.
Ele passa sob a minha janela...!
(o suster a respiração, o pânico, o medo, a curiosidade!)
E era um jovem a descer a rua em patins de dois pares de rodas paralelas, por ali abaixo como se fosse a coisa mais natural do mundo, qual parar no cruzamento, qual quê?, lá continuou a coçar o alcatrão por ali fora, e eu percebi porque é que se deve ir para a cama cedo. Isso, ou moderar certos consumos... Ou os dois. Ou! Estar à espera de tudo e mais alguma coisa, pois já nada é de estranhar.
E se este não foi um bom episódio para retomar a parvoíce ao natural que tão bem pauta este blogue, não sei o que poderia ser...