sexta-feira, 27 de abril de 2012

E já que aqui estou...

Diz que há um Motel aqui na zona onde se comem boas francesinhas.

A mim, parece-me muito bem.
Primeiro, porque pode induzir em erro. Um erro legítimo, claro. Um gajo vai a pensar em cancans, joie de vivre; rendilhados vermelhos e negros, seios constritos em espartilhos. Na invenção do erotismo cru, fluido, dançado e arrastado na língua, sem rodeios nem embaraços. E zau!, espetam-lhe com uma tosta mista no prato.
Segundo, porque um convite para jantar nunca se recusa. "E já que aqui estamos..."

A isto, meus senhores, eu chamo boa publicidade!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

De médico e de louco...

Ponto de Encontro: Faculdade de Medicina, 10h

9h20 e já Raquel está estacada por baixo das parangonas "FACULDADE DE MEDICINA - HOSPITAL S. JOÃO"

9h45 "Que estranho, ainda ninguém ter chegado. Bem, mas assim como assim, consta que este povo não se pauta muito por chegar a horas, o que fará antes das mesmas..."

9h50 Passo em revista mental o e-mail recebido com a hora e o local do encontro. "Faculdade de Medicina - 10h" Está certo...

9h55 "OK, é mesmo estranho ainda não estar aqui ninguém! Vou perguntar ao Segurança se estarei no sítio certo"
-Bom dia, diz Raquel sorridente
-Bom dia, diz o Segurança erguendo os olhos do jornaleco
-Eu estou aqui para coiso e tal... -pausa para descortinar o acendimento da luzinha no senhor. Nada... Continuando -...e o ponto de encontro era na recepção da Faculdade de Medicina. -nova pausa, mesmo desfecho: nenhuma reacção -Sabe se estou no sítio certo?
-Disse que estava aqui para quê?, diz o Segurança para provar que não estava morto, coisa que eu já começava a supor face à sua falta de reacção.
-Coiso e tal, diz Raquel já sem convicção nenhuma, pondo tudo em causa, desde o local de encontro, o dia, as horas, até ao movimento de rotação da Terra e os falsetes do Nuno Guerreiro.
Com olhar altivamente indagador e voz pausada de compaixão, diz o Segurança:
-A menina sabe onde é a Ala de Psiquiatria?
-Perdão?!, ataranta-se-me o espírito.
-A Ala de Psiquiatria, repete ele como se aquilo fosse o discorrer normal da conversação.
Passei-me, pois com certeza que me passei:
-Como diz?!, "Ala de Psiquiatria"?! Mas o senhor está a brincar comigo? Acha plausível esse tipo de gracejo sem graça nenhuma? Parece-lhe que, estando na posição em que está, se pode permitir ao gozo fininho com quem pede informações?!
-Mas sabe onde fica, ou não?
O pasmo:
-O QUÊ?!
-A Ala de Psiquiatria.
-Não, sua abécula! "O quê" foi a minha estupefacção a perguntar sobre o que terá o senhor no lugar da boa-educação que a senhora sua mãezinha lhe deve ter dado! -Começando a achar que já estou a soar mesmo a louca, faço a revisão dos factos em voz alta -Eu só fiz uma pergunta. Eu até li ali em cima "FACULDADE DE MEDICINA", eu tenho que estar na Recepção da Faculdade de Medicina, já passa da hora, e o senhor em vez de ser útil, é parvo!
Saindo de trás da mesa, e encaminhando-se para a porta -Eu digo-lhe onde é...
Possessa que estava, estrebucho-me toda, lanço perdigotos boca fora ao som do meu desagrado, e no meio da luta que travava com o descontentamento com aquela situação, ouço o senhor dizer:
-...à direita, encontra a Ala de Psiquiatria, segue pela esquerda, vira à direita e vai encontrar o edifício novo da Faculdade de Medicina.
Como que atacada por uma falha súbita de corrente, volto à vida com um:
-Há um edifício novo da Faculdade de Medicina?
Ciente do seu trabalho bem feito, diz o Segurança:
-Sim. Vai por onde lhe disse e chega lá.

Fui o caminho todo com o queixo caído face ao que se tinha passado, e ainda sinto as dobradiças do maxilar doridas de tanto espanto...