sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O desespero de causa das acções

Corro mais depressa para que o tempo passe mais depressa (...) ainda mais depressa e sei que, por causa disso, as pessoas envelhecem mais depressa, morrem, nascem crianças. (...) E corro o mais depressa que consigo, como se fugisse daquilo que me assusta, como se fosse possível fugir daquilo que levo no interior da minha pele e vai comigo para todos os lugares, corro o mais depressa que consigo, como se pudesse deixar-me para trás, como se pudesse correr tão depressa que, num momento, me soltasse de mim e me deixasse a mim próprio para trás, como se avançasse para fora do meu corpo e, através da velocidade, me purificasse, corro o mais depressa que consigo, corro.


José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos

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