Reza a lenda, que em longínquas madrugadas longe de serem aquecidas pelo Sol, esquecido delas enquanto com outras se deleita, em dias que ainda são noite, pela escuridão e pelo frio, há uma senhora que não pode parar. Anda para a frente e para trás em espaços que não mudam, percorrendo somente os minutos. Porque se ela parar, o tempo pára também...
São os dias da semana que vão chegando e se sucedendo, e são matutinas as necessidades e obrigações que fazem poucas gentes convergirem para um espaço esquecido nos sonhos do Mundo que ainda dorme. À luz das luzes artificiais que o banham e pintam de amarelo-alaranjado àquelas horas, esse espaço é sempre igual: três táxis em fila, com os rádios em silêncio para não despertarem a noite, as portas abertas como que antecipando chegadas apressadas, um senhor sempre sorridente pronto a dizer a quem dela precise, que a porta da Estação "Está fechada, mas quase a abrir", e o seu saco gozando ainda do descanso, encostado à parede. Escadas descendentes vazias, o painel com as horas das partidas e destinos -sempre as mesmas, sempre os mesmos...- escadas ascendentes vazias: o desvio a que a porta "fechada mas quase a abrir" obriga. O ecoar dos passos, sempre os terceiros a lá chegarem, o rapaz que dum banco já fez sua propriedade nas esperas quotidianas, o pensar "vou-lhe atirar um sorriso! Um dia, hoje não...", o outro banco, também com direitos de propriedades já estabelecidos, o frio que as calças deixam passar, um olhar para a esquerda, e a Senhora Que Não Pode Parar.
Lá está ela. Para lá... Para cá... Há bancos e muros e encostos e espaços vazios onde sentar, encostar, simplesmente estar e esperar. Mas a Senhora Que Não Pode Parar não pode parar, e vai para lá e para cá, desde quando não se sabe, mas até ao comboio chegar, para por fim ser ele a levá-la, dando descanso aos pés, que calcorrem quilómetros quase sem sair do espaço finito de meia dúzia de metros.
Entretanto, já chegou o Senhor Que Põe A Mala Entre As Pernas E Os Pés No Limiar Da Linha Amarela, e daí a nada vai aparecer a Amiga Loira da Senhora Que Não Pode Parar, e que tem uma pronúncia a roçar dialectos do Leste.
E agora sim, com a porta da estação aberta, com o senhor sorridente e o seu saco já do lado la linha, com o Senhor Que Põe A Mala Entre As Pernas E Os Pés No Limiar Da Linha Amarela, com a Amiga Loira da Senhora Que Não Pode Parar, o comboio já pode chegar.
Mas houve um dia, em que a Senhora Que Não Pode Parar não apareceu. E depois outro, e ela não apareceu. E ainda outro e mais outro, e ela sem aparecer.
Reza a lenda, que em longínquas madrugadas longe de serem aquecidas pelo Sol, a Senhora Que Não Pode Parar parou. E os táxis continuaram lá, e o senhor sorridente continuou lá, e o saco encostado à parede continuou lá, e as escadas e o painel, e o rapaz e o banco e o outro banco e o Senhor Que Põe A Mala Entre As Pernas E Os Pés No Limiar Da Linha Amarela continuaram lá, e a Amiga Loira da Senhora Que Não Pode Parar continuou a chegar lá, todos à espera da vida que costumavam ter, mas a Senhora Que Não Pode Parar tinha parado, e com ela o tempo da Estação, e não fossem os Homens irritar o diafragma do Tempo, e ele soluçar numa hora, e nunca, nunca mais, teria havido noite de manhã.
São os dias da semana que vão chegando e se sucedendo, e são matutinas as necessidades e obrigações que fazem poucas gentes convergirem para um espaço esquecido nos sonhos do Mundo que ainda dorme. À luz das luzes artificiais que o banham e pintam de amarelo-alaranjado àquelas horas, esse espaço é sempre igual: três táxis em fila, com os rádios em silêncio para não despertarem a noite, as portas abertas como que antecipando chegadas apressadas, um senhor sempre sorridente pronto a dizer a quem dela precise, que a porta da Estação "Está fechada, mas quase a abrir", e o seu saco gozando ainda do descanso, encostado à parede. Escadas descendentes vazias, o painel com as horas das partidas e destinos -sempre as mesmas, sempre os mesmos...- escadas ascendentes vazias: o desvio a que a porta "fechada mas quase a abrir" obriga. O ecoar dos passos, sempre os terceiros a lá chegarem, o rapaz que dum banco já fez sua propriedade nas esperas quotidianas, o pensar "vou-lhe atirar um sorriso! Um dia, hoje não...", o outro banco, também com direitos de propriedades já estabelecidos, o frio que as calças deixam passar, um olhar para a esquerda, e a Senhora Que Não Pode Parar.
Lá está ela. Para lá... Para cá... Há bancos e muros e encostos e espaços vazios onde sentar, encostar, simplesmente estar e esperar. Mas a Senhora Que Não Pode Parar não pode parar, e vai para lá e para cá, desde quando não se sabe, mas até ao comboio chegar, para por fim ser ele a levá-la, dando descanso aos pés, que calcorrem quilómetros quase sem sair do espaço finito de meia dúzia de metros.
Entretanto, já chegou o Senhor Que Põe A Mala Entre As Pernas E Os Pés No Limiar Da Linha Amarela, e daí a nada vai aparecer a Amiga Loira da Senhora Que Não Pode Parar, e que tem uma pronúncia a roçar dialectos do Leste.
E agora sim, com a porta da estação aberta, com o senhor sorridente e o seu saco já do lado la linha, com o Senhor Que Põe A Mala Entre As Pernas E Os Pés No Limiar Da Linha Amarela, com a Amiga Loira da Senhora Que Não Pode Parar, o comboio já pode chegar.
Mas houve um dia, em que a Senhora Que Não Pode Parar não apareceu. E depois outro, e ela não apareceu. E ainda outro e mais outro, e ela sem aparecer.
Reza a lenda, que em longínquas madrugadas longe de serem aquecidas pelo Sol, a Senhora Que Não Pode Parar parou. E os táxis continuaram lá, e o senhor sorridente continuou lá, e o saco encostado à parede continuou lá, e as escadas e o painel, e o rapaz e o banco e o outro banco e o Senhor Que Põe A Mala Entre As Pernas E Os Pés No Limiar Da Linha Amarela continuaram lá, e a Amiga Loira da Senhora Que Não Pode Parar continuou a chegar lá, todos à espera da vida que costumavam ter, mas a Senhora Que Não Pode Parar tinha parado, e com ela o tempo da Estação, e não fossem os Homens irritar o diafragma do Tempo, e ele soluçar numa hora, e nunca, nunca mais, teria havido noite de manhã.
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