terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

You sexy thing!

Já não havia luz que descesse do céu, e o amarelo que escorria dos postes de iluminação ainda era parco e insuficiente para desenhar com perfeição e claridade os contornos das sombras e das coisas que as formam. Em alturas destas, há outros sentidos que não a visão mais à coca de acontecimentos para descortinar. Sendo que não ando às apalpadelas -na via pública, pelo menos-, nem com a língua de fora, e o frio cortante anestesiava o olfacto, acrescendo-lhes ainda o facto de que o que se avizinhava soa como um bom champagne a borbulhar num copo, como uma cria de leão a fazer ron-ron, como um vozeirão másculo, viril e incontrolavelmente apetecível, ouço aproximar-se em jeito de desaceleração e à medida que caminho para a passadeira, o trabalhar dum veículo que nasceu para ser carro, mas é muito mais do que isso.
Espreito, vejo a frente dum Ford Fiesta do século passado, ponho a ponta do pé na estrada e eis que ali atrás, tão pertinho de mim, tão inatingível e tão inimaginável se desenha um Aston Martin.
Perdi o controlo do meu maxilar inferior, que caiu em jeito de espanto contemplativo. Continuei caminho com a cabeça presa pelos fios invisíveis que saíam das linhas daquela maravilha. Cheguei ao outro passeio a dar graças por ainda haver carros aos quais custa a arrancar, parei com a minha expressão de êxtase no condutor, pisquei-lhe um olho, ele acelerou provocadoramente, e sei que ele seguiu caminho a pensar: "Tenho um carro tão potente que até entraram ciscos para o olho daquela miúda!"


Sem comentários: