segunda-feira, 24 de julho de 2006

Cabimento



Como uma agulha cabe numa caixa de fósforos ou num caixão,
num palheiro, num jardim, no bolso de uma pessoa,
na multidão.
Camião, montanha, tudo cabe em seu tamanho,
tudo no chão.
Hoje eu caibo nesse mesmo corpo,
que já coube na minha mãe.

Minha mãe,
minha avó
e antes delas minha tetravó,
e antes delas um milhão de gerações distantes
dentro de mim.

Um lugar, num porão,
uma cama, num colchão.
como um átomo num grão,
uma estrela na galáxia.

Como a bala de revólver cabe no revólver,
cabe também numa caixa, num buraco, bem no centro do alvo,
ou em alguém.
Onde cabem coração, cabeça, tronco e membros soltos no ar,
como cada gesto cabe no seu movimento muscular

Só nós dois, meu amor,
não cabemos em mim ou em você.
Como toda gente tem que não ter cabimento para crescer.


-Arnaldo Nunes-

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