segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Episódios de um Episódio de Consulta Hospitalar


Ir ao Hospital a uma consulta, é...


... ter que estar lá meia hora antes da hora da consulta, só ser atendida 50 minutos depois da hora marcada, e estar 5 minutos no consultório.

... darem-nos o recibo a confirmar o pagamento no dia X às tantas horas... numa cidade completamente diferente daquela em que estamos (a saber, entrados no Hospital de V. N. Famalicão, há um buraco negro que nos transporta para Santo Tirso. Aliás, o que é óptimo, caso seja preciso provar onde nos encontrávamos às tantas horas do dia X...)

... ter a televisão da direita na RTP1 e a da esquerda na SIC, e ser hora de dar telenovelas em ambas, numa estereofonia absolutamente desconcertante.

... ter a senhora da limpeza a tentar meter conversa com tudo quanto é gente.

... ver gente de batas e fatinhos azuis, verdes ou brancos a andar dum lado para o outro sem nada para fazer. Ou com muito para fazer mas sem vontade nenhuma. E sem o fazer, claro...

... ver o sinal fotoluminescente do extintor... em cima da máquina do café. Atirado e perdido lá por cima... A ganhar pó... Sem extintor por perto...

... no fim da consulta ter que ir para uma fila que demora mais que a própria da consulta (não que seja difícil...), e ter um casal de tonos com o filho gordo e um amigo tono com o filho, nas palavras do pai, "seco", em que numa conversação, a cada cinco palavras ditas, nove são palavrões, porque
"-onde está o cuaralho do moço, p*ta que pariu que ainda agora estava aqui! 'Tá gordo com'ó cuaralho, filho da p*ta que até já pus um alquete no frigorífico pa ele deixar de comer!"
"-olha c'ó meu só lhe falta bater pa ele comer! Qu'inda pensam mas é qu'um gajo num dá de comer ós filhos!", que
"-p*ta que pariu pa isto, que um gajo num sai daqui, que é análises e exames e mais a m*rda, e um gajo tá sempre no hospital!"
"-e depois o meu só quer é porcarias! Come pouco e só gosta de bumlicaos e coca-colas, E olha qu'isso te faz um bem do cuaralho!"
"-e isto num anda?! Lá pá m*rda...! E agora que vai p'ó ciclo vai ser inda pior, que lá c'o bar... -Num leva dinheiro!
-É!, e vai ser diferente dos outros!!!", e
"-oh mãe aunda, oh mãe aunda, oh mãe aunda!"
"-num bês qu'eu 'tou na fila, cuaralho!", e entre dasagrados e inquietações, bufam 500 mil vezes para cima do meu pescoço, e a paciência que eu tão bem fui fazendo render, varre-se-me toda ali, e se não chega depressa a minha vez, ainda sou eu que me viro para trás e mando duas ou três car@lhadas e "afastem-se de mim, parece que não ouviram falar da Gripe A!", não que nesse momento seja isso que me apoquenta, simplesmente tenho aversão a bafejos de gente que nunca vi para cima do meu pescoço!
Mas lá me posso chegar ao blacão, e a senhora atende-me com um sorriso absolutamente despropositado para o estado em que me encontro, e pelo emprego sufocante que deve ter, numa simpatia só passível de ter sido buscada na gravidez que em si contém, e em todo aquele brilho que até chegava a incomodar, de tão desfasado com a realidade estava...

... ter que ir marcar um exame à outra ponta do Hospital, e ter que voltar para trás para sair, e ver o Sol novamente...


Mas, ainda assim, não há nada como um Episódio de Consulta no Centro de Saúde!

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