Há uma zona nos comboios urbanos do Porto que está disposta da seguinte maneira: porta - conjunto de 4 bancos - fole - conjunto de 4 bancos - porta.
Entram duas senhoras que, se fossem personagens de uma estória que eu escrevesse, seriam duas amigas reformadas sem netos para ir buscar à escola, acabadinhas de chegar da confeitaria mais próxima que tivesse candelabros de vidrinhos no tecto, que essas mais modernas de agora, com os seus focos e tectos falsos são impessoais e feitas só para ganhar dinheiro, que já não há cuidado com as pessoas, somos tratadas como "mais um", a despachar!, depois de terem lanchado uma torrada em pão saloio e um chazinho de tília, servidas pelo sempre paciente Sr. Alfredo, empregado da casa há anos, mais calmo que um panda sedado, depois de uma ter cortado na casaca de todas as jovens de hoje em dia, que passavam de ombros à mostra e calções curtos, e de todos os jovens de hoje em dia, que passavam de calças rasgadas e t-shirts coloridas, e de a outra ter concordado apenas, pois que remédio, que mais não conseguia fazer, ainda que estivesse tentada a dizer que não é bem assim, é deixá-los andar, que até dão mais cor aos dias, livra-te mulher!, que arriscas-te a perder a parceira do bridge das Quintas-feiras, entram, então, por uma dessas portas. A mais diplomata entra no banco que logo se lhes apresenta, e diz-lhe a outra "vamos antes para ali", apontando para o conjunto de bancos seguinte. Pensei para mim -porque ainda não tinha mergulhado na literatura, que vidas dos outros, a interessarem-me, só mesmo as que se desenrolam nas letras de um livro-, "a senhora não quer ir de costas", quando ela argumenta a ordem com um "porque ficamos mais perto da porta".
Engasguei um sorriso com a bolacha que estava a comer, e senti um abraço do quotidiano enquanto me dizia "por aqui fiquei enquanto foste e vieste, e por aqui vou continuar. Bem-vinda de volta!"
Entram duas senhoras que, se fossem personagens de uma estória que eu escrevesse, seriam duas amigas reformadas sem netos para ir buscar à escola, acabadinhas de chegar da confeitaria mais próxima que tivesse candelabros de vidrinhos no tecto, que essas mais modernas de agora, com os seus focos e tectos falsos são impessoais e feitas só para ganhar dinheiro, que já não há cuidado com as pessoas, somos tratadas como "mais um", a despachar!, depois de terem lanchado uma torrada em pão saloio e um chazinho de tília, servidas pelo sempre paciente Sr. Alfredo, empregado da casa há anos, mais calmo que um panda sedado, depois de uma ter cortado na casaca de todas as jovens de hoje em dia, que passavam de ombros à mostra e calções curtos, e de todos os jovens de hoje em dia, que passavam de calças rasgadas e t-shirts coloridas, e de a outra ter concordado apenas, pois que remédio, que mais não conseguia fazer, ainda que estivesse tentada a dizer que não é bem assim, é deixá-los andar, que até dão mais cor aos dias, livra-te mulher!, que arriscas-te a perder a parceira do bridge das Quintas-feiras, entram, então, por uma dessas portas. A mais diplomata entra no banco que logo se lhes apresenta, e diz-lhe a outra "vamos antes para ali", apontando para o conjunto de bancos seguinte. Pensei para mim -porque ainda não tinha mergulhado na literatura, que vidas dos outros, a interessarem-me, só mesmo as que se desenrolam nas letras de um livro-, "a senhora não quer ir de costas", quando ela argumenta a ordem com um "porque ficamos mais perto da porta".
Engasguei um sorriso com a bolacha que estava a comer, e senti um abraço do quotidiano enquanto me dizia "por aqui fiquei enquanto foste e vieste, e por aqui vou continuar. Bem-vinda de volta!"
3 comentários:
É que me consegui perder na tua hipotética descrição das senhoras :P
No entanto...
Bem vinda aos transportes públicos do Porto que nos brindam com estas pérolas! ;)
Bem-vinda de volta, eu digo também.
e vou voltar ao trabalho e espetar 2 palitinhos nos olhos e volto amanhã, sim?
Beijinhos e boa noite.
Gostei da descrição das avozinhas, até porque não sou experiente em transportes públicos no Porto. Assim fico a saber como é :)
Elas que viessem a estes transportes urbanos uma tarde e tinham comentários para 3 gerações.
Pusinko, bem-vinda de volta digo eu! ;)
E volte quando quiser, mas ter como desculpa para não ficar, o "trabalho", é quase imperdoável! ;)
Nos comboios do Porto, há uma panóplia imensa de avozinhas e demais senhoras e senhores, para todos os gostos, desgostos e feitios. Se localizarmos ainda mais a coisa e nos virarmos, por exemplo, para os bus, aí há panóplia e meia! :D
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