Há uma coisa que me apoquenta imenso. Crava-me rugas na testa, pesa-me no peito, tinge-me o quotidiano de tons monocromáticos, e é raro o dia em que mal me tenha acordada e funcional, não arqueie o sobrolho de preocupação por Lucy e Djaló ainda não terem nome para a nova aquisição do clã.
Quando soube deste facto pelas páginas duma revista, não pude de deixar de gritar para as mesmas um "Maria da Luz" ininterrupto, na esperança vã de que os inquietos pais me escutassem. (Escusado será dizer que no mesmo instante tentaram alterar-me a consulta de ortopedia pela qual esperava por uma de psiquiatria, e só a explanação do facto e sensatez dos agentes de saúde me conseguiu safar.)
Este nome só tem vantagens: depois de uma Lyonce Viiktorya, nada melhor do que um nome que "não [sendo] um encanto, é cá da terra e tem, tem muito encanto"; não ofuscaria a nomenclatura da primogénita; e marcava indelevelmente a ida do papá para o Glorioso. Já vi shampoos com "'tantos'" em 1" sem este nível de perfeição.
Todas as semanas passo a vista pelos dois semanários que esta terrinha edita, fértil que ela é em assaltos, simulacros, ajuntamentos; ramboiísse, textos opinativos, e demais palestras subordinadas a temas; vitórias, derrotas e, vai-não-vai, um ou outro empate nas mais diversas modalidades, desde a natação ao xadrez, sem passar pelo jiu-jitsu, o btt e, como não podia deixar de ser, o futebol, com laivos de boccia e de rugby, já para não falar nos desportos motorizados, de tudo quanto é freguesia; convocatórias associativas, publicidade a estabelecimentos comerciais e quadrículas de relax, para o povo não desesperar.
Jamais, com tudo de bom e de mau de que podia estar à espera, conseguiria conceber que estas incursões pelas notícias com cheiro a tinta alterariam quase irreversivelmente a rectidão da linha do raciocínio que me levou a querer ser madrinha da criança do número 12 do Benfica, só para lhe poder dar o nome. Agora, toda eu sou indecisões, e percebo bem a confusão que há-de ir na cabeça daqueles progenitores, que se fazer um filho é fácil, nomeá-lo, é o cabo dos trabalhos!
Para além de tudo -mas mesmo TUDO- o que vem nos jornais, aparece sempre o mítico "este ou aquele tem o prazer de anunciar a morte de fulaninho" (mais coisa, menos coisa, que também nunca atento a isto...). Esta semana levei um soco no estômago, não pelo punho da saudade ou mão da incredulidade pela morte da senhora (que não a conheço bem como 99,99% dos restantes), mas pelo nome que a falecida acarretou nos seus muitos anos de vida.
Luciana, Yannick, venho por este meio -por ser o mais global que me é possível (já tentei gritar para as páginas duma revista e não resultou...)-, atirar achas para uma fogueira já de si perigosa de tão altas que lhe são as labaredas, lançando um "Eufrozina" para o ar.
Se atónita fiquei com esta descoberta, mal refeita ainda estava quando, trémula, volto a página e *zau!*, *bam!* saltam-me às vistas uma Aidina e um Eliziário, este último facilmente transformável em "Eliziária".
Estou tão louca de felicidade que nem respirar consigo! Mas, assim como assim, quem precisa de Oxigénio quando se é invadido por pequenos querubins e papudos serafins a mimarem-nos o ser?