quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Adeus...

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.




Porquê? Por que chegamos aqui, assim? Um aqui tão diferente para cada... O que nos levou a isto? A paixão não o conseguiria. O amor, muito menos. Porque é que todo o tempo em que fomos e estivemos soube tanto a eterno, e agora se esbate e esfuma, com a chuva e com o desejo de esquecimento? Porquê o adeus, porquê as barreiras. Porquê a indiferença? O que aconteceu? Depois de tantas confidencialidades, depois de tanto, porquê isto? Porquê agora? Depois das lágrimas de alegria, depois da lágrimas de dor, porquê nenhuma vontade agora de verter seja o que for pelo que já passou? Pelo que não voltará. Nunca... Tinhamos tanto! Tinhamos tudo... E agora de cada vez que vejo o teu nome, só raiva. Porquê? Valeu a pena o que perdi para ganhar outra coisa? E será que ganhei? Porque é que depois de tudo, de até não apetecer chorar, volta tudo outra vez, e a distância não se alia ao esquecimento, e não acaba tudo. Aqui. Agora. Já olhei para tudo. E não soube a nada. Porquê?... Não olhei mais. E soube a pouco. A crueldade. Porquê? Diz-me...

2 comentários:

José Daniel Ferreira disse...

Fantástico Poema cantado por uma mulher fantástica: Simone de Oliveira. Óptima escolha... e optimo blog. Parabens

who's yo' mama?! disse...

Pela parte que me toca, obrigada :)