Do alto pende uma corda. Na sua ponta terrena tem um emaranhado de nós. E uma laçada.
Estás num lugar estranhamente calmo, quedo em meio de tons rasgados de cinza ténue e branco, um limbo, onde só de olhos fechados sentes uma brisa que quase não corre, somente acaricia os relevos da cara mais salientes, sem saberes se lhe sentir calor ou frio.
O silêncio...
As sobrancelhas desenham-te desconfiança no rosto, e quando quase toda ela não te cabe aí dentro, crescendo, crescendo, inclina-te a cabeça para um dos lados, crescendo, crescendo, transborda num impacto, no abrir dos olhos, numa inspiração descompassada.
Do teu lugar, ergues os olhos levando por arrasto a cabeça, mas não
Sobes perto deste último -tão perto que sentes ser possível reanimá-lo com um só sopro!-, e procuras fibras, impressões, provas, não que incriminem quem aqui o pôs, mas que o ilibem. Guardas tudo só para ti, para que mais ninguém saiba, tão bem escondido, que até tu corres o risco de as esquecer. Continuas a pensar com o coração sua tonta!, continuas a achar que ele pode tudo, e que acaba por ganhar. Continuas a exigir-lhe demais... Já está fraquinho, toma cuidado!...
Pousas as mãos, uma em cada peito, um frio, um quente, e sentes um bombear. Num reflexo comandado pelo receio de te aperceberes em qual delas é, tiras as mãos, como o dedo que se afasta da agulha onde se picou, juntas uma à outra, e o frio difunde-se no calor, e o calor perde forças junto ao frio, e voltas a ser tu, num soluço do tempo, na realidade de todos, perdida no meio duma rua, descontinuando os pingos da chuva que não chegam ao chão, encharcada de ponta a ponta, no dia em que o tempo se compadece contigo, te lava a cara ou te esconde as mágoas...
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