quarta-feira, 4 de junho de 2008

O sustentável peso

Fossem os sentidos atabalhoados e indiscerníveis, que ainda assim nunca nos faltaria a percepção.
Fossem mais de mais-que-muitas as escolhas, que nunca nenhuma outra faria sentido.
Sejam mais de mil, os caminhos que a vida tome, que voltamos sempre atrás ao mesmo ponto de partida. Que não há fé, credo, seita ou religião, filosofia, valor, partido, clube, colectividade ou ajuntamento, que arranque tanto de nós, que nos complete e pertença tanto.
Tivessem as guerras razão de ser, que lutaríamos sem nunca perder as forças.
Fossem as liberdades reduzidas, que mesmo de mãos e pés atados, mesmo de boca tapada, compassaríamos o coração na cadência dessa palavra.
Fossem as lágrimas alicerces, que a mística dos Leões alados construiria uma Fonte para cada um de nós.
Arrancassem as recordações pedaços ao tempo, que os dias só avançariam quando nós quisessemos.
Fossem inaudíveis todas as notas musicais, que a nossa música teimaria em soar.
Fossem as cores limitadas, e uma delas seria só nossa, porque mesmo havendo tantas, o céu escolheu imitar-nos.
Fossem os ventos contrários, como tantas vezes o são; fossem nove os Planetas e em todos eles a ausência de gravidade, que a nossa seria a única bandeira desfraldada!

fotografia gentilmente cedida por Sponge Peter

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