sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Da Rússia, com amor

À primeira vista, a Rússia longínqua, fria, comunista, imperial ou democrática não nos diz muito. No entanto, não é preciso grande esforço para chegarmos às Matrioshkas, e ainda menos para a vodka, os KGB's e a Kalinka (que pode dar muito jeito quando internacionalizamos o gosto pelo álcool e não se o acompanha com os comprimidos milagrosos (vermelhos e pretos, não os azuis...)). Mas há mais. Da Rússia chegam também professores, e com eles, toda uma nova panóplia de sons e (des)usos da gramática Portuguesa, que fariam o Camões furar com um lápis o olho que lhe sobrou, por puro desespero. Creio que todos os aspirantes a cientistas por farte da nobrérrima FCUP conhecem, quanto mais não seja, de nome, o Smirnov, Professor desta casa. Ora eu tive o prazer de ter uma aula com ele e, digo-vos, foi das aulas mais fantásticas que tive até hoje! A pronúncia do senhor, é deliciosa; o efeminizar tudo quanto diz, é a cereja no topo do bolo; o uso pouco ortodoxo do quadro, seria invenção para durar, caso fosse descoberto pelos Americanos. A maior preocupação dele é a aritmética. No final de cada conta, por mais elementar que seja, solta uns "Vërifïcä", grosso modo em número de dois, e os dizeres que quase me fizeram perder a compostura foram dois resultados, que numa outra aula qualquer, passariam completamente despercebidos, mas numa aula com o Smirnov, e depois de tantos salpicos de apalavreado de Português temperado, 4/3 serem "qüatro tërças" e 5/2, "cincuo meias", roubam a decência ao mais desatento. Na recta final da aula (e ainda bem que só aí), o percurso dum exercício no quadro vai da esquerda para a direita (normalíssimo), depois, de cima para baixo, (aceitável) seguindo depois da direita para a esquerda, num acavalitar de números e parêntises, que ninguém se entende!
É um facto que nunca uma aula foi tão proveitosa e tão descontraída ao mesmo tempo, chegando mesmo a tender para a boa-disposição agalhofada. De mais a mais, este tipo de coisas testa a minha capacidade de conter o riso, o que chega a ser útil não raras vezes. Só queria que a minha professora continuasse doente (coitada da senhora, não é nada pessoal nem sequer contra ela), para continuar a usufruir do que a Rússia tem de melhor!

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