Aquela era uma típica manhã de Segunda-feira a chegar ao fim: chata. Cinzenta, fria e húmida, do modo como só o Inverno a ela se sabia ligar, emaranhado que já estava nas paredes daquele escritório iluminado parcamente por uma luz amarelada e cansada que o tornava ainda mais estreito e baixo, ainda menos agradável.
"Bolas, que fastio!", pensou enquanto se recostava na cadeira que, à força de tantas vezes ter que suportar agruras profissionais, já chiava ao mínimo encosto.
Puxou duma cigarrilha, deslizando-a pelo nariz fazendo com que o cheiro adocicado do tabaco fraco lhe pesasse prazenteiramente nas pálpebras que a ele cederam. Com a mão direita tacteou o bolso do casaco onde tinha o isqueiro, e deixando o hábito mover-lhe os dedos, fez a chama saltar de encontro à já preparada cigarrilha. O crepitar das folhas secas, e o bafo de fumo pardo a subir em direcção ao tecto, hipnotizaram-no.
Perdido neste torpor, foi com um salto e um compassar acelerado do coração que saudou o anafado Antunes, que lhe irrompia pela sala luzidio e com a expressão de criança em vésperas de Natal:
-Inspector-chefe, vamos ao nosso almocinho?
Diabos pá! Que este homem para além de contrariar todas as leis da Física e deslocar-se sem ruído, ainda se rege pelo estômago qual astrónomo pelos Planetas!
Assim como assim, estava visto que aquela manhã já não ia render mais...
À saída do prédio, notou que toda a neblina que envolvia aquela parte da cidade prolongava o cinzento da fachada. Pensou, com um misto de humor sarcástico e auto-comiseração, que o cinzento sempre o perseguia, quanto mais não fosse, pela gabardina com mais anos do que os que se lembrava e da qual nunca teve paciência de se livrar.
Apanhou a meio a frase do Antunes, qualquer coisa como "...mais indícios de falcatruas".
-Esta vai ser de peixe graúdo, chefe! Já temos tudo para partir para a investigação! Chato é ninguém conseguir pensar num nome para dar à Operação...
Grunhiu-lhe um qualquer incentivo despropositado, mas visto a porta do restaurante já estar próxima, não adiantava alongar-se na conversa.
De lista na mão, viu sem ler o que havia, e decidiu-se, transmitindo ao empregado que já esperava impaciente de papel e caneta na mão, ao lado da mesa.
-Pode ser Paella...
-Isso!!! PAELLA! -exaltou-se Antunes.
-Duas paellas então? -disse, atarantado, o empregado, atónito com tamanha voracidade!
-Não homem, credo! Para mim é uma mãozinha de vaca!-disse Antunes, enquanto se ria baixinho, adjectivando só para ele e para os seus botões, os sujeitos que comiam paella...
"Bolas, que fastio!", pensou enquanto se recostava na cadeira que, à força de tantas vezes ter que suportar agruras profissionais, já chiava ao mínimo encosto.
Puxou duma cigarrilha, deslizando-a pelo nariz fazendo com que o cheiro adocicado do tabaco fraco lhe pesasse prazenteiramente nas pálpebras que a ele cederam. Com a mão direita tacteou o bolso do casaco onde tinha o isqueiro, e deixando o hábito mover-lhe os dedos, fez a chama saltar de encontro à já preparada cigarrilha. O crepitar das folhas secas, e o bafo de fumo pardo a subir em direcção ao tecto, hipnotizaram-no.
Perdido neste torpor, foi com um salto e um compassar acelerado do coração que saudou o anafado Antunes, que lhe irrompia pela sala luzidio e com a expressão de criança em vésperas de Natal:
-Inspector-chefe, vamos ao nosso almocinho?
Diabos pá! Que este homem para além de contrariar todas as leis da Física e deslocar-se sem ruído, ainda se rege pelo estômago qual astrónomo pelos Planetas!
Assim como assim, estava visto que aquela manhã já não ia render mais...
À saída do prédio, notou que toda a neblina que envolvia aquela parte da cidade prolongava o cinzento da fachada. Pensou, com um misto de humor sarcástico e auto-comiseração, que o cinzento sempre o perseguia, quanto mais não fosse, pela gabardina com mais anos do que os que se lembrava e da qual nunca teve paciência de se livrar.
Apanhou a meio a frase do Antunes, qualquer coisa como "...mais indícios de falcatruas".
-Esta vai ser de peixe graúdo, chefe! Já temos tudo para partir para a investigação! Chato é ninguém conseguir pensar num nome para dar à Operação...
Grunhiu-lhe um qualquer incentivo despropositado, mas visto a porta do restaurante já estar próxima, não adiantava alongar-se na conversa.
De lista na mão, viu sem ler o que havia, e decidiu-se, transmitindo ao empregado que já esperava impaciente de papel e caneta na mão, ao lado da mesa.
-Pode ser Paella...
-Isso!!! PAELLA! -exaltou-se Antunes.
-Duas paellas então? -disse, atarantado, o empregado, atónito com tamanha voracidade!
-Não homem, credo! Para mim é uma mãozinha de vaca!-disse Antunes, enquanto se ria baixinho, adjectivando só para ele e para os seus botões, os sujeitos que comiam paella...
3 comentários:
Devias levar a escrita mais a sério ;)
Sem aparvalhar, né? Respeitando-a... ;)
Isso :) Repara que eu comentei no "chamem-lhe nomes", não foi no "giro giro" nem no "sensações", ehehe
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