terça-feira, 4 de março de 2008

A minha dor tem o teu nome

Qual foi o dia que começou e te fez mudar tanto? Qual foi o momento em que te atiraste para a frente de braços abertos, sem saber que sem mãos te estatelarias redondo no chão? Quanto tempo levou a eclodir o fantoche que agora te guia? Que fios te puxam, menino? E para onde te levam?
Não achas estranho olhar para trás -se é que ainda consegues voltar a cabeça-, e ver-te ao colo da felicidade, deslizando pela vida como se o corpo não pesasse e o sorriso fosse o combustível impulsionador dos dias que passavam sem pressa, numa cadência de mimos e abraços? Em que parte dessas horas que passam nos relógios e nos arrastam pelos tempos verbais, foste intimidado pelo Mal, não ousaste sequer fazer-lhe frente, e aceitaste caminhar lado a lado com ele, num estágio sôfrego de assimilação, vendendo-lhe alma, memórias, corpo, vida, passando tu a encarná-Lo, vangloriando-O por becos e ruas, e esquecendo-te de ti? Com que lampião de luz tremida, escondidos ambos em recantos lamacentos, foste apagando a tua imagem? Com que força o fizeste, com que brutalidade o quiseste fazer? Quantos dias solarengos, não te farão agora falta? Agora que já é tarde e o pouco de ti que vejo gasta-me a sobriedade...
Não te custa teres tido tudo, teres podido ter ainda mais, teres negado a tudo isso, e agora quereres voltar atrás? E tens a certeza de que se erguesses o Mundo a força da tua vontade tê-lo ia feito girar noutro sentido? Tens a certeza de que indo o Mundo para onde vai, não continuarás a empunhar a tua faca, escorrendo o sangue dos que te surgem pelo caminho que te traz aqui, antes a deixarás cair, prostrando-te nu no perdão dos Homens, cumprindo pena máxima pelos corações que petrificaste, sem infernos, céus ou purgatórios, nas vontades que tinhas e que ficaram adiadas?


Pode o meu colo ficar à espera?



Que quantidade de loucura precisamos para voltar a cegar?

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