O sr. Costa era mecânico de profissão há já mais anos dos que os que sabia contar. O sr. Costa tinha herdado as mãos ossudas do pai e uns dinheiritos dos padrinhos, com os quais montou a sua própria oficina. O sr. Costa gostava da bola, de tremoços, de beber cerveja pela garrafa e arrotar espalhafatosamente. O sr. Costa, solteiro mais por irritação que por convicção, gostava de chegar a casa, sentar-se na curva há muito marcada no assento do sofá, esticar os pés para cima do monte de jornais que nunca deitava fora à espera do Verão e das moscas para enxotar e do atear das brasas nos churrascos no fogareiro no quintal, e pegar no diário grátis do dia e passar uns bons bocados com os Classificados.
Maria Amélia era funcionária dos CTT há já vários anos, os suficientes e mais alguns para ser Chefe dos Correios. Tinha por isso um lugar de destaque, coisa que, aliás, não a apoquentava nem um bocadinho. Maria Amélia era solteira, cinquentona, é certo, mas recatada. Maria Amélia bamboleava a anca enquanto andava, fazia a barriga das pernas estremecer a cada passada dada com vigor -todas elas o eram, aliás!- no chão. Maria Amélia tinha um ar altivo, intocável, puritano até mais não. Maria Amélia ia à Missa aos Domingos, jejuava na Quaresma e ajudava os pobrezinhos no Advento. Maria Amélia mudava todos os dias a página ao missal que tinha em cima do armário ao fundo do corredor, não sem antes a ler.
Maria Amélia conseguia resistir a tudo, excepto aos avanços mais libidinosos do Sr. Costa.
A culpa era do carro de Maria Amélia, um Ford Fiesta de '92, já com muitos quilómetros feitos em viagens curtas e estradas más. Volta e meia lá tinha que voltar à oficina para um arranjo aqui, um retoque acolá, uma afinação não-sei-onde.
Ao primeiro impacto, achou-o rude, indecoroso, um pouco desleixado consigo próprio até, mas tinha tão boas referências, que "a obra sai tão perfeitinha", que lá lhe confiou o carro, achando ser a única coisa. Da segunda vez, cruz credo, que já nem se lembra muito bem, lá devia estar mais carente ou o homem mais atrevidote, sentiu de rompante uma sapatada no rabo, que valha-me Nosso Senhor, as Avés-Marias que vou ter que rezar por causa disto! Mas foi o homem que ta deu, mulher... Está bem, que seja, mas eu até gostei, mais um terço para aviar logo à noite!
Agora, o carro já nem tem que precisar de arranjo. Basta inventar-se um qualquer ruído no motor, uma qualquer vibração na manete das velocidades, que Maria Amélia corre para o mecânico. Lascivamente desfia um rosário e o que mais preciso for, que se Deus Nosso Senhor inventou o prazer, não há-de ter sido para ficar encafuado tanto tempo, que eu já penei muito por essa vida fora!
Já o sr. Costa, perdeu a conta aos jornais que não leu. Ficaram pois as Lucineides desamparadas, sem razão de ser, para ali impressas numa página de jornal sem valor.
Maria Amélia era funcionária dos CTT há já vários anos, os suficientes e mais alguns para ser Chefe dos Correios. Tinha por isso um lugar de destaque, coisa que, aliás, não a apoquentava nem um bocadinho. Maria Amélia era solteira, cinquentona, é certo, mas recatada. Maria Amélia bamboleava a anca enquanto andava, fazia a barriga das pernas estremecer a cada passada dada com vigor -todas elas o eram, aliás!- no chão. Maria Amélia tinha um ar altivo, intocável, puritano até mais não. Maria Amélia ia à Missa aos Domingos, jejuava na Quaresma e ajudava os pobrezinhos no Advento. Maria Amélia mudava todos os dias a página ao missal que tinha em cima do armário ao fundo do corredor, não sem antes a ler.
Maria Amélia conseguia resistir a tudo, excepto aos avanços mais libidinosos do Sr. Costa.
A culpa era do carro de Maria Amélia, um Ford Fiesta de '92, já com muitos quilómetros feitos em viagens curtas e estradas más. Volta e meia lá tinha que voltar à oficina para um arranjo aqui, um retoque acolá, uma afinação não-sei-onde.
Ao primeiro impacto, achou-o rude, indecoroso, um pouco desleixado consigo próprio até, mas tinha tão boas referências, que "a obra sai tão perfeitinha", que lá lhe confiou o carro, achando ser a única coisa. Da segunda vez, cruz credo, que já nem se lembra muito bem, lá devia estar mais carente ou o homem mais atrevidote, sentiu de rompante uma sapatada no rabo, que valha-me Nosso Senhor, as Avés-Marias que vou ter que rezar por causa disto! Mas foi o homem que ta deu, mulher... Está bem, que seja, mas eu até gostei, mais um terço para aviar logo à noite!
Agora, o carro já nem tem que precisar de arranjo. Basta inventar-se um qualquer ruído no motor, uma qualquer vibração na manete das velocidades, que Maria Amélia corre para o mecânico. Lascivamente desfia um rosário e o que mais preciso for, que se Deus Nosso Senhor inventou o prazer, não há-de ter sido para ficar encafuado tanto tempo, que eu já penei muito por essa vida fora!
Já o sr. Costa, perdeu a conta aos jornais que não leu. Ficaram pois as Lucineides desamparadas, sem razão de ser, para ali impressas numa página de jornal sem valor.
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