quinta-feira, 30 de junho de 2011

Momento de estupefacção nr. 2

Puta que pariu, que até me obrigam a falar mal! Então agora bate-se palmas a toda a gente que teve os seus 15 minutos de fama, quando morre?

O moço morreu porque foi inconsciente, inconsequente, imprudente, temerário, com ele morreu mais um jovem e outra está muito mal! Não morreu vítima de um acto de terrorismo cobarde, não morreu vítima de uma doença maldita! Pode-se sentir pena pelo sofrimento de famílias e amigos, mas dele, não!

Se fosse o filho da vizinha a ter um acidente de automóvel em excesso de velocidade a meio da madrugada, jesus, do que o apelidavam! A ele, à mãe dele, quiçá ao pai e até ao periquito! Nem que culpa tivesse sido do eixo traseiro! Era ele que ia a conduzir, não era? Mais uma descascadela na tia, na prima e no cão. Mas se o menino apareceu na TV e cantava e tinha dois palmos de cara, "ai, coitadinho"!

Palmas?! A sério?! Ele tinha 28 anos, completou-vos assim tanto a vida, deixou obra feita em prol de algum bem maior?
Ganhem juízo nessas cabecinhas, que muita falta vos faz, e eu escusava de ver destas coisas que me tiram do sério, evitavelmente.

Se fosse o funeral dum primo afastado (e, oh que simpática que estou a ser com o adjectivo!), "ai não vou! Nem o conhecia assim tão bem, e 'tá um dia de praia tão bom, ainda por cima... O tanas é que me apanham na torreira do cemitério à espera dum morto!"
"Ai, mas foi tão lindo!" Tão lindo, uma ova! Que aquilo não é espectáculo nenhum, há gente a sofrer. A bom sofrer!

Cambada de gente estúpida, pá! Nestas alturas até tenho vergonha, e nem é nada comigo...

[Quando vier a Primavera,]



Eu é que já decidi que não vou morrer senão, queria este poema lido no meu funeral!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Olh'ó Bairro Norte como é lindo!

E nem precisava da barraquinha das caipirinhas; e nem precisava da cachaça que sabia mesmo mesmo a Bacardi que até parecia mesmo mesmo Bacardi, e de palhinhas entupidas "'tá bem que brilha, mas está entupida!"; e nem precisava da turma da Xuxa, porque havia um cinquentão (porque não sei escrever sexagenário a terminar em "-então") que cantava a turma da Chuca; e nem precisava de música gravada em CD's riscados ou computadores cansados, que ainda se continua a perguntar "Quem deixou os cães sair" e tudo ladra e ninguém quer saber; e nem precisava de motas estacionadas dentro de casa; e nem precisava da quantidade de putos com garrafas na mão (disto NÃO precisava mesmo!); e nem precisamos de saber dançar bailarico, que já nos basta as vergonhas de o fazer no meio da rua e de casais com idades para serem nossos avós; e nem precisava daquela matulona, que mulheres daquele tamanho metem-me medo; e nem precisava de se dizer "Vamos jeitosas" quando é a rusga infantil a actuar, e muito menos de se dizer "Peitos p'ra fora, mulheres!" quando já são as moças roliças que estão no palco e "ai que eu estou perdido no meio delas!!!", é favor tirarem o homem dali e dar-lhe água com açúcar antes que ele acabe a noite numa cela; e nem precisava de churros e farturas e pipocas e cheiros doces, porque tem as sardinhas a assar na rua, tem as mesas postas no passeio, tem as garagens abertas com música alegre a dissolver-se no ar quente que o São Pedro guardou para a sua noite, tem o azul e amarelo para onde quer que se olhe, tem o amor daquela gente que grita pela sua paixão até altas horas da madrugada, que mima o santo com fogo e festa aos seus pés, que desde que eu me lembro, e que era assim pequenina, que o santo tem o seu lugar cativo na ponta da rua, como que posto lá para lhe mostrarem, lhe dizerem: "olha Pedro, isto é tudo para ti!".

"Não há na Póvoa coisa mais linda, mais bela!"

terça-feira, 28 de junho de 2011

Humor Negro (mas daquele negro-Raquel-devias-ter-vergonha-!) II

É de mim, ou o acidente do Angélico ter sido numa altura em que as canucas estão de férias, é uma coincidência muito grande?

Ai, mas que conveniente, tudo com tempo de sobra para se perfilar à porta do hospital!

Ai se os Americanos me descobrem!!! - parte V, ou Será mesmo culpa do clima?

Somos de novo atacados por bafos de calor insuportáveis. O corpo ressente-se, faz-nos perder o juízo, não há nada que lhe regule a homeostasia e nos acalme a impaciência.

Foi acontecendo por vezes que, em momentos que nada o fizessem prever -como sendo, por exemplo, noites de Inverno ou ventosos passeios à beira-mar-, a senhora minha mãe toda esbaforida lançasse um despropositado "Está calor, não está?!". Não estava. Estavam é as hormonas todas desgovernadas que, chegadas a certas idades e alturas da vida, o Outono feminino descontrola tudo, desde os humores ao termostato.

Depois de muitos anos enjauladas por (de)mentes e ideias masculinas, habituadas por força das circunstâncias a suportar tudo sozinhas, as mulheres de hoje em dia já não são o que eram antes, e insurgem-se sempre que lhes apetece sem ter que dar satisfações a ninguém.

Tenho, para mim, que todo o calor que por vezes nos assola, nos deixa a todos, homens e mulheres, desesperados e pegajosos, não é pois mais que uma insurreição de todas as mulheres que se vendo chegar à menopausa, conspiram contra quem está de fora, subornam os meteorologistas para que estes digam que são "frentes baixas" ou "frentes quentes" ou "anti-ciclones" que causam este estado do tempo, e arranjaram maneira de nos fazer passar a todos o que não conseguimos compreender quando a elas e só a elas sucede. Como? ainda não percebi, mas estou de olho nelas!

Se não, vejamos, havia calores insuportáveis há 70 anos atrás? Não.
E as mulheres podiam, sequer, bocejar sem levar dois tabefes de mão fechada? Não!
Agora está calor e as mulheres estão saídas da casca!
Se A implica B e B implica C, A implica C!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pictionnary

Foi uma sorte, uma sorte!, eu ser desta civilização e não de outra qualquer que habitou a Terra há 10 000 anos. Com o (inexistente) jeito que eu tenho para o desenho, ia ser um problema, que por esta altura ainda andava tudo quanto é arqueólogo às aranhas por não conseguir descortinar que animais caçávamos, de quais fugíamos e quem ou o que idolatrávamos.

Uma sorte!

domingo, 26 de junho de 2011

Momento de estupefacção


A SÉRIO QUE AINDA HÁ GENTE QUE ANDA DE CARRO SEM PÔR O CINTO DE SEGURANÇA?!

sábado, 25 de junho de 2011

Wushu

Raquel, a miúda que para ser um hipopótamo bailarino numa loja de porcelanas só lhe falta o tutu, foi fazer Tai Chi...

Tenho tanto jeito para aquilo como para a Física Quântica, mas gostei. O parque, a relva, as árvores, os passarinhos a pipilar, uma brisa simpática... Para o próximo mês, estou lá outra vez! Aliás, fiquei de tal forma fã, que até me mandarem embora ou mudarem o local sem avisarem, hei-de ir sempre!

Sou uma mulher muito mais calma. Já não fico esbaforida ao dizê-lo... E mais!, não me tentem atacar com o braço direito, que eu sou bem capaz de aplicar o que aprendi, e ainda me magoo antes de me magoarem a mim!

Estupidamente descoordenada? Eu?! Nã!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Não se esqueçam da escova de dentes!

Toda a gente conhece aquele provérbio que diz "Em dias de S. João vai tratar da dentição". Quem não conhece, é porque nunca precisou de arranjar mnemónicas para ter em ordem os seus check-up's anuais nas mais diversas especialidades.

Este é, então e por excelência, um dos dias do ano por que mais anseio. Não sei se sabem ou se ainda se lembram, mas eu nutro uma paixão avassaladora pelo meu estomatologista -porque somos chiques e não há cá "dentista" para ninguém!- É uma coisa tão intensa que, se eu não odiasse tanto a boca a saber a papel pautado reciclado, comia chocolates e trincava rebuçados sem lavar os dentes a seguir antes de ir para a cama, só para a bicharada poder prosperar durante a noite no quentinho bem-bom, e eu ter que ir mais regularmente visitar o homem que me faz abrir a boca mais por admiração que por obrigação. Eu até sou utilizadora assídua de fio-dental (nos dentes) só para, de cada vez que ele me pergunta se eu uso, dizer-lhe que sim e piscar-lhe o olho atrevidamente. Convenhamos, o homem até tem que pôr o aspiradorzinho de saliva na minha boca de cada vez que fala comigo só para que a baba que o meu assombro gera, não lhe encharcar o consultório!
E eu conto isto a um grupo restritíssimo de pessoas, não só porque poucos me lêem mas, e principalmente, porque poucos sabem quem sou e quem é o meu dentis... perdão, estomatologista. Logo, não há perigos de maior porque quem não deve nunca o saberá. Somos os dois extremamente felizes, mas é no meu mundo e nele só entra quem eu quero e deixo.

Agora imagine-se que algo do que ali explanei entrava em segredo de justiça. Ficava-se logo a saber! E podia ser muito mal interpretado, e o senhor ainda arranjava problemas na clínica, com a senhora que não sei se tem, enfim, tudo por aí abaixo e era um ver-se-te-havias. É que, no fundinho fundinho, são as questões dentárias que me levam ao consultório.

No final das questões dentárias, dez-me ele para "bochechar muito e muitas vezes" com a água que tem no copinho de plástico. Sim senhor, *chuk chuk chuk chuk*, limpa a beicinha ao guardanapo, afiambro-me para tirar o babete e eis que sou travada pela partner que aparece sempre quando é precisa, vinda não-se-sabe-de-onde: "Espera, espera!"
Pára tudo! Que não se pode mexer nas pinças de metal que seguram o babete, que a senhora empertiga-se toda!
Nada mais errado.
Continua ela, enquanto molha a pontinha do guardanapo em água: "...É que tens aqui pasta no lábio. E não convém que vais lá para fora com bocadinhos brancos aqui", e manda-me um sorriso daqueles, que até eu, quantas vezes, escondi por não ser próprio!
Tu queres ver que a mulher para além de surgir por geração espontânea, ainda lê pensamentos? Tu queres ver que ela também é fã do homenzarrão que é o dentis... perdão, estomatologista? AII AI A SAFADA!, tu queres ver que ela e o senhor doutor coiso e tal e agora vêm para cima de mim com "ai se sais daqui assim, o que vão pensar, o que vai ser de nós, ai ai ai, ai ai ai?!"

Lá prestável a senhora é, isso ninguém lhe tira. Que lá me limpou o lábio qual prata a ser lustrada e me tirou o babete. Mas a pulga atrás da orelha, cá ficou, até porque quando estava a pagar, o sô tôr passou umas impacientes quatro vezes para lhe dizer que se ia embora. Safados pá... Já não há gente séria.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Num Mundo Perfeito... III

Num Mundo perfeito, todas as tampas das embalagens de shampôo, gel-de-banho, pastas-de-dentes menos compactas, mais viscosas ou mais líquidas, cremes do corpo e demais substratos do género, seriam lisas. Permitiriam que a embalagem pudesse ser pousada invertida, sem necessidade de sessões de equilibrismo que têm tanto de periclitante quanto de circense, com encostos e cercarias pouco mais que casuais com outras embalagens (desta feita ainda suficientemente cheias), que de cada vez que uma gota da água do chuveiro lhes toca, vem tudo aos rebolões pela banheira fora, numa sinfonia desconcertante, acordando a casa toda, o prédio sem contar com os velhos do 2º. Dto que já ouviram melhor, e atazanando-me a paciência só para aproveitar o conteúdo mais duas ou três vezes...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Era pois!

Não era bem melhor se o sono fosse como um banco, com depósitos e levantamentos, permitindo-nos o gasto diário de, digamos, 8 horas, sendo que cada hora dormida a mais fosse creditada na nossa conta, possibilitando que em noites menos dormidas fosse por que razão fosse, esse crédito nos valesse, e não nos sujeitássemos a ter que andar todos zombies, a roçar todas as paredes em jeito de bola de pinball para nos tentar aguentar de pé, respondendo de cada vez que nos dirigem a palavra com um "Huh?!", que nos passa tudo ao lado, que o nosso span de atenção foi dar uma curva sem retorno previsto?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

No mundo de Raquel

ou "A Justiça não é cega. Tem é uma venda a tapar-lhe os olhinhos pela qual às vezes calha de espreitar. Ossos do ofício..."

Uma das 500 mil Professoras que dão esta cadeira, não interessa qual para o caso, mas posso dizer, já agora, e para não vos deixar a matutar na coisa: Fisiologia Animal Complementar: "Vejam lá não arranjem torcicolos a olhar para o exame do colega, que isso é muito perigoso!"

Raquel, no seu mundo: *braço no ar* "Tenho uma dúvida."

Outra das 500 mil Professoras que dão a cadeira que já sabem qual é, prestável e prontamente: "Pois não..."

Raquel, no seu mundo: "Se formos apanhados a copiar, vamos todos corridos a 10?"

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dores do reumático, síncopes, encefalias e outras coisas que tais

Quero expressar publicamente o meu fascínio -repito com ênfase: fascínio!- pelo Reumon Gel. Estou, inclusive a pensar casar com ele e antevejo um futuro encantador.

Não houve médico (espanhol, português, de Família ou qualquer outra instituição prevista pela Constituição) ou massagista (de futebol e/ou qualquer outro desporto abrutalhado) que fosse capaz de descortinar o porquê da mais recente parvoíce de que o meu organismo foi capaz. No entanto -e embora não chegasse lá, andou pelas redondezas-, o dito massagista lançou um "Reumon Gel" para o ar. Vai daí, massajo várias vezes ao dia o braço com o Gel e já vejo o meu cotovelo! Mais!, do cotovelo para cima já sou só músculo e fibra, inchaço de grilo!
O Reumon Gel curou-me quando nem a Medicina percebeu o meu mal. (E outra coisa não seria de esperar dum Laboratório meu anagrama... "Bila" e "Bial", para quem não apanhou esta à primeira. 'Tá, Topo?)

Estou maravilhada! Nunca mais quero outra coisa e a partir de agora doa o que doer: cabeça, dentes, unhas encravadas, ou até mesmo a vistinha depois de se ver certas coisas que se vêem e antes não se tivesse visto, pumba, Reumon Gel p'ra cima.

Já tenho até nome para o nosso primeiro filho. Vai-se chamar Reumon Gel Comprimido (porque vai ser igual ao pai, mas pequenino...).

São só (alguns) bocados de mim

Bocados de mim, Anaquim

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aí vêm eles!

Raquel e a sua t-shirt preferida para os exames

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Raquel e as mazelas que arranja em alturas de exames

Há uns aninhos atrás, foi a chaga que, anos volvidos, já mal se nota (excepto quando a minha mãe me pede para tirar a louça da máquina... "Não pode ser!!! Olha! Foi isto que aconteceu da última vez que o fiz!!!").
Agora, é um braço do tamanho que três braços teriam. E, pior do que isso, é ter perdido o cotovelo no meio de todo o inchaço que me ataca. Mais!, da outra vez, foi na mão esquerda. Era mais doloroso, mas era na mão cega. Agora é no braço direito, e embora a dor seja inexistente, é bastante mais incómodo.

Meto então pés ao caminho até ao Centro de Saúde, que por muito que o meu bom e ao mesmo tempo, estúpido humor me faça dizer que agora já sei como é que é ser gordinho e ter muita chicha nos braços, isto ainda me preocupa, e espero que quem me atenda me ponha boa. Sabendo que estas coisas nunca se fazem céleres, levo comigo o meu livrinho para não ter que ver programinhas da tarde da tv, e espero que o altifalante me permita entender o meu nome a ser chamado. A páginas tantas, "*qualquer coisa imperceptível* *o apelido espanhol e o português ditos como se fossem ambos como o primeiro* *Con ssultório dos*". Mais rápida de reacção do que de pensamento, levanto-me com a certeza em crescendo de que "a coisa imperceptível foi 'Raquel'", e ala para o Consultório 2.
Há uma coisa muito interessante no que toca a numerar seja o que for: é prático. Há ainda mais coisas interessantes no que toca a numerar seja o que for: é rápido, eficaz, universal, não permite dúvidas nem trocas. E tudo isto funciona muito bem quando, neste caso, as portas dos consultórios, estão DE FACTO numeradas. Ora, quando não estão, bem podiam dizer "consultório 2", "consultório Aniki Bobó", "consultório Tamarin Imperador", que ia tudo dar ao mesmo! Mas, habituada que já deve estar a que os pacientes vagueiem pelos corredores de nariz no ar à espera da luz divina, a médica decide-se a vir à porta e, vendo-me, pergunta "Ráquel?" BAM! Si, presupuesto!, que sempre que me dá uma maleita qualquer, aparece-me uma médica Espanhola à frente. Elas vêem o meu nome e devem andar à porrada com os colegas Portugueses para me apanharem! Agora percebo o "nh" dito como "ñ" e o "z" lido "c"!

Entro, sento-me ainda tonta de ter virado a cabeça 500 mil vezes por minuto para tentar encontrar o Consultório a que chamam "2", ainda com o livro na mão e com o casaco feito um bicho inanimado no colo, já ela acabou de me perguntar "lo que ce passa?"
"É este meu braço que, desde ontem ao final da manhã, inchou muito", digo o mais pausadamente possível, e tentando que a característica palerma de que sou portadora, de apanhar tudo quanto é sotaque alheio e deles fazer o meu, não se me escorregue da boca para fora.
Ela olha para o braço, e desenha na cara a expressão "mas isso é um braço perfeitamente norm..." mas eis que olha para o esquerdo e ergue as sobrancelhas num "oohh!... Tu tens uns braços finguelinhas! Eh pá! Isso está MESMO inchado!!!"
É chato. É chato porque é chato dizer a uma senhora dos seus, vá, 40 e muitos - 50 anos, cujo braço em dias normais é como o meu triplicado, que de facto o normal do meu é ser magrinho.

Escreve no computador.
"Foste picada?" Não.
Apalpa, apalpa, apalpa, nada.
Escreve no computador.
"Se fizer isto, dói?" Não.
"E se fizer isto?" Não.
Escreve no computador.
"Então e se contrariares este movimento?" Também não.
"Fizeste esforços com o braço" Sim.
Mmmm...
Escreve no computador.
Continua a escrever no computador.
Já estou a pensar "esta mulher está a escrever um livro e é médica nos momentos de parca inspiração?" e zás!, espeta-me os polegares nas axilas e eu penso em todas as aulas acerca do Sistema Linfático que, agora e por segundos, gostava de esquecer, sob pena de magicar no que ela pode encontrar de mau por ali.
Nada.
Escreve no computador.
Pergunta-me: "Tens sentido alguma coisa anormal na mama?"
Respondo "Não tenho, não", mas já tenho o pensamento outra vez a mil à hora, que esta mulher está a ver é se me mata do coração com estas considerações todas, que às vezes era melhor a gente não saber tanto quanto sabe, que quanto mais sabe, mais preocupada fica, que é tudo muito bonito no papel, nos Power Point's, mas a esta altura já me dói tudo, tenho a senhora a apalpar-me uma mama e depois a outra e depois as duas ao mesmo tempo e mal a ouço dizer, ainda à minha frente, quase em cima de mim, e sentindo com toda a certeza todo o meu desconforto e pânico, "isto se fosse numa perna era muito mais fácil" e mal a vejo sentar-se e a escrever outra vez no computador.
"Não sei o que poderá ser..."
Valha-me o Santo que fez de hoje um feriado, que coisa ruim afinal não é! Foi aquele anjinho por que passei e que ia para a procissão, tão fofinha que ela era, de cor-de-rosinha acetinado vestida, asinhas felpudinhas e saltitantes como só as asinhas dos anjinhos saltitam, que me livrou!
Mas, espera lá... Não sabes?
"Voy ali *qualquer coisa imperceptível*. Pedir segunda opiniao!"
Foi mesmo o anjinho! Uma médica sem medo de dizer que não sabe, sem medo de pedir ajuda num diagnóstico, um conselho sobre por que via seguir, pois já calcorreou todas quantas achou possíveis!

Chega outra médica -que ou também é Espanhola ou, como eu, também apreende os sotaques que ouve-, e a primeira pergunta-lhe "O que achas disto?" Perdida que estava no castanho dos meus olhos, precisou de um sussurrante "el braço" ao ouvido para sentir o choque que a diferença de tamanho dos meus dois braços causa.
Conferenciaram:
1ª. médica: "Não tem nada no ombro, *qualquer coisa, qualquer coisa, só percebi "axilas"*, "Pensei que pudesse ser uma tendinite. Mas as tendinites doem!
2ª. médica, virada para mim: "E não te dói?"
eu: "Não."
2ª. médica: *Apalpa, apalpa, apalpa* "Não te dói?"
eu: "Não"
2ª. médica: E desde quando está isto assim?
eu e a 1ª. médica em uníssono, qual Coro de Santo Amaro de Oeiras: "Desde ontem ao final da manhã"
2ª. médica: Se fosse uma *nome de uma inflamação qualquer* também doía..." *Apalpa, apalpa, apa...*
eu: "OLHA! Aí dói!"
as três, sentindo que tínhamos perante nós o Messias recém-nascido: "Awww..."
2ª. médica: "Podia ser uma fractura do cotovelo. Mas, quer dizer, não doía só ao carregar..."
1ª. médica: "Ela diz que fez esforço com o braço..."
2ª. médica: "Fizeste esforço com o braço?"
eu: "Sim." (até porque estou aqui, não deixava a Sra. Dra. Primeira mentir)
1ª médica, tentando acabar o raciocínio: "...podia ser uma ruptura muscular..."
as duas médicas em uníssono: "Mas também doía!"
1ª. médica: "Deixa-me ver as tuas mãos"
Nada.
2ª. médica, apertando-me o bíceps: "Mas isto está duro!"
eu, comigo mesma, que não levava botões comigo: Pois, é um músculo!

A confusão estava instalada no consultório. Já se entranhara nas paredes e parecia não haver esfregona, detergente, compêndio de Medicina capaz de a limpar dali.

2ª. médica: "Quem é o médico de família dela? Quem é o teu médico de família?"
eu, enquanto a 1ª. médica encolhia os ombros: "Dr. Coisito"
2ª. médica para a 1ª., como a quem aquela informação -que a mim também me pareceu desnecessária- o foi de facto: "É dar um anti-inflamatório e vigiar..."
1ª. médica, para a 2ª.: "Ficaste como eu!"
2ª. médica, virada para mim, enquanto me continuava a cutucar o único sítio onde dói: "O ideal era fazer uma ecografia, mas aqui não podemos..."
eu, em pensamento: "E escrever um daqueles formulários que para aí têm com nomes que nada têm a ver com a coisa, a requisitar uma?"
Parece que não...

A 2ª. médica sai, a primeira escreve no computador, às tantas, uma luz ilumina-a de baixo para cima, ela levanta-se e: "Deixa-me só auscultar-te, não vá teres um sopro no coração e ter resultado num caso muito raro para a tua idade!"
Nem tive vagar para processar mais uma informação dada assim à bruta, sem preliminares nem nada, a senhora lá me auscultou em três ou quatro sítios diferentes: "Está tudo bem!"

E cá estou eu, com um anti-inflamatório no bucho, o braço -parece-me- cada vez mais gordo, e com a confusão lançada, mais uma vez!

Raquel: uma incompreendida até pela Medicina!

domingo, 12 de junho de 2011

Como dar conta de que já estamos a precisar de uma pausa, em apenas um passo

Estar a estudar e escrever: "a libertação de prolactina pela hipófise anterior origina a produção de leite, que fica armazenado nos alvéolos pulmonares"

É nos mamários, amores. "Alvéolos mamários". Só para não ficarem dúvidas...